Morre em Belém o músico popular Mestre Cardoso
Morreu na tarde desta terça-feira (20), aos 79 anos, José Ribamar Cardoso, o Mestre Cardoso, vítima de câncer, que se espalhou pelo corpo e atingiu gravemente o fígado. Na semana passada, o músico foi encaminhado do hospital municipal de Ourém, nordeste paraense, onde morava, para Belém, e foi internado no Hospital Ophir Loyola.
Segundo familiares, há cinco meses Mestre Cardoso vinha sofrendo com o agravamento dos problemas no fígado. Nos últimos dias, a doença ficou ainda mais severa. “Fui visitá-lo há dois dias, e ele estava falando com dificuldade, bastante debilitado”, conta Ronaldo Silva, músico do Arraial do Pavulagem, amigo de Cardoso.
Folclorista, Mestre Cardoso nasceu no Piauí, na cidade de Parnaíba, em 4 de janeiro de 1933. Em busca de aventura, saiu pelo país, aos 20 anos, passou por cidades paraenses como Viseu, Bragança e Capitão Poço, e em 1993 estabeleceu morada em Ourém. No município, desenvolveu extensa e diversificada produção musical. “Ele tinha o improvisido do povo nordestino, então ele criava muito rápido. Era impressionante. Ele incorporou bem as coisas do Pará, fazia carimbó, xote, toadas de boi”, conta Fábio Cavalcante, pesquisador de Belém, responsável pelo registro de mais de 300 composições de Cardoso. Do projeto, surgiram dois discos: “Galo da Campina”, com canções só de Cardoso, lançado em 2005; e uma coletânia de toadas de boi de Ourém, de 2007.
Por sua revelante contribuição para a culura do Pará, Mestre Cardoso foi homenageado em 2008 pela Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, num encontro da música erudita com a popular. “A orquestra fez arranjos para toadas de Cardoso e músicas inspiradas na obra e vida do Mestre”, lembra Cavalcante, que fala ainda sobre a personalidade festiva de Cardoso. “Cardoso fez o que queria fazer. Sempre brincou de boi, que era o que ele mais gostava. Festejou muito e teve uma vida feliz”.
O músico Ronaldo Silva, outro nome de destaque da música de raíz paraense, comenta a despedida a mais um mestre da cultura popular. “Cardoso teve o olhar para traduzir toda a riqueza que ele percebia em melodia. Ele era mais um músico tradicional da nossa região, onde há inúmeros mestres, com beleza, simplicidade e versatilidade criativa”, diz. “Cardoso se foi exausto, apesar de não levar uma vida de excessos. Ele não fumava nem bebia. Mas se foi exausto, como se vão os mestres. Cansado porque a vida de músico popular neste estado é difícil. A maioria se vai dessa forma, exausto, sem reconhecimento”, lamenta Silva.
Um dos últimos a visitar Cardoso em vida, Ronaldo expressa sua admiração pelo Mestre. “Pessoas como ele são semeadoras do bem e vem dar o alerta de que a música pode dignificar, trazer alegria e unir as pessoas. E isso Cardoso fez com muita maestria. A passagem dele por aqui foi brilhante”.
Fonte: G1