Homenagem do dia:Júpiter Maçã
Flávio Basso, também conhecido como Júpiter Maçã ou Jupiter Apple (Porto Alegre, 26 de janeiro de 1968 — 21 de dezembro de 2015), foi um cantor, compositor e cineasta. Referência fundamental do rock gaúcho, foi fundador das bandas TNT e Os Cascavelletes, que influenciaram toda uma nova geração de bandas gaúchas dos anos 90 em diante.
Em carreira solo, foi reconhecido com um dos ícones da psicodelia brasileira, ao trazer um novo grau de experimentalismo ao rock nacional, com o disco “A Sétima Efervescência”, eleito pela revista Rolling Stone Brasil um dos “100 maiores discos da música brasileira”.
Flávio Basso nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 26 de janeiro de 1968, um “feriado Beatle, o meu dia de nascimento”, como dizia o próprio. Iniciou nas artes de maneira autodidata, aos 13 anos, expressando-se “através da música com um violão”.
Aos 17 anos, funda com os amigos Marcio Petracco (baixo), Felipe Jotz (bateria) e Charles Master (guitarra) o grupo TNT, uma banda de rockabilly adolescente. Depois de convidar Nei Van Sória para assumir a guitarra, Basso ficaria apenas no vocal. Falando principalmente de mulheres e suas desilusões amorosas, o TNT logo passou a lotar shows e ter boa execução nas rádios.
O sucesso da banda chama a atenção do selo Plug, da gravadora BMG, que convida a banda em 1985 para gravar duas músicas para a coletânea Rock Grande do Sul, que apresentou o Rock Gaúcho ao mercado nacional, nos anos 80. Entretanto, antes gravar o primeiro disco, devido a divergências musicais, Basso e Nei Van Sória deixam o TNT para fundar Os Cascavelletes, com Frank Jorge e Alexandre Barea.
Durante sua curta carreira, entre 1987 e 1992, Os Cascavelletes causaram furor pelo seu som irreverente e letras polêmicas. O lançamento do álbum Rock’a’ula pela gravadora EMI-Odeon em 1989 traz à banda um reconhecimento nacional, com a música “Nega Bombom” fazendo parte da trilha da novela Top Model, da Rede Globo.
A performance pautada pela tríade “sexo, drogas e rock ‘n’ roll” e as letras com referências pornográficas resultou em um estilo musical próprio, o chamado “porno rock”, que influenciou bandas de rock no Rio Grande do Sul de 1990 em diante.
No início dos anos 90, Flavio ainda voltaria a integrar o TNT, excursionando e participando das gravações de dois singles independentes: “Você (isso me deixa insano)” e “Tá na Lona”.
Seu primeiro disco solo, A Sétima Efervescência (1997), é calcado nos moldes de The Piper at the Gates of Dawn, do Pink Floyd, com psicodelia e experimentação (e por um leve momento, um prenúncio de sua obra ulterior, o final de “Sociedades Humanóides Fantásticas”, uma bossa-nova psicodélica). As músicas desse disco são grandes referências do rock gaúcho. Contém algumas fixadas no imaginário underground, como “Um Lugar do Caralho” (regravada por Wander Wildner no disco Baladas Sangrentas), “Eu e Minha Ex” (com a parceria de Marcelo Birck nos arranjos), “As Tortas e as Cucas” e “Essência Interior”.
Após experimentar um grande sucesso com o lançamento desse disco, torna-se Jupiter Apple, compõe em inglês, e decide misturar bossa-nova e vanguarda. Muitos fãs não o entenderam, preferindo a psicodelia mais acessível de A Sétima Efervescência. Essa mistura inusitada está muito bem feita no seu segundo disco, Plastic Soda (1999). Ele começa com uma canção de nove minutos, “A Lad and a Maid in the Bloom”, que define o caráter inovador do disco.
Em 2002 é lançado Hisscivilization, o disco mais ambicioso (e talvez incompreendido) de Jupiter Apple. Longas experimentações eletrônicas (destaque para “The Homeless and the Jet Boots Boy”), bossas elétricas e lounge, valsa, cítaras e moogs, condensados em momentos, ora de leveza, ora de paranóia. É seu disco mais hermético: se, para os que estavam acostumados com o rock and roll de Os Cascavelletes, a A Sétima Efervescência já era algo inesperado (psicodelia em doses cavalares), a reação causada pelos dois discos da fase Apple são ainda mais dramáticas.
Em 2006 era esperado o lançamento do disco Uma Tarde na Fruteira. Nele, o “Apple” volta a ser “Maçã”, mas continua explorando o lado brasileiro e experimental, com músicas já eternizadas no subconsciente do underground porto-alegrense, como “A Marchinha Psicótica de Dr. Soup”. Esse álbum pode ser considerado o mais acessível do autor. De certa forma, tudo que já foi composto pelo Júpiter está resumido neste disco: desde canções mod sessentistas, levezas jazz, baladas domingueiras à Bob Dylan com concretismos e timbres eletrônicos.
No dia 23 de novembro de 2011, Júpiter Apple gravou seu primeiro DVD ao vivo no Opinião, em Porto Alegre/RS. O show também marcou a inauguração da J.A.C.K. (Jupiter Apple Corporation and Kingdom).
Apoiado por sua banda, formada por Julio Sasquatt (bateria), Julio Cascaes (guitarra), Felipe Faraco (baixo) e Astronauta Pinguim (teclados), o show foi gravado em Porto Alegre, na noite da quarta-feira, 23 de novembro de 2011 no Bar Opinião. Com participações mais do que especiais de Nei Van Soria, Lucio Vassarath, Hique Gomes, Marcio Petracco, , Conjunto Bluegrass Porto-Alegrense, Clara Averbuck, Hamburg Black Cats e Bibiana Graeff, o DVD apresenta um registro de 20 canções que sintetizam a carreira de Jupiter Apple, mostrando hits de seus álbuns solo e também relembrando momentos dos tempos de TNT e d’Os Cascavelettes.
Em 19 de Julho de 2012 caiu do segundo andar do prédio onde morava em Porto Alegre, ficando internado em de saúde regular no setor de traumatologia do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre.
Depois de quase 2 anos sem dar notícias aos fãs e ficar afastados dos palcos (após a queda), Júpiter, retornou e lançou, em julho de 2014, o DVD Six Colours Frenesi. O set list completo do show tem 20 músicas, clássicos do rock Gaúcho e mais de duas horas de show. O DVD possui uma versão de Lovely Riverside que conta com a participação do grupo Conjunto Bluegrass Porto-Alegrense. Em sua última fase como Júpiter Maçã ele passou a trabalhar seus lançamentos em forma de singles acompanhados de videoclipes.
Em agosto de 2015 ele lançou os singles “Constantine’s Empire” e “They’re All Beatniks”,anunciado por meio de seu perfil no Facebook, com a seguinte mensagem:
“Nos últimos tempos ando numa fase low profile. As músicas nascem particulares, revelando o íntimo de um indivíduo que sempre interpretou diversos personagens. Desta vez venho nu, buscando inspiração na crueza e no concretismo das canções folks. Quis sobrepôr Júpiter Maçã, Júpiter Apple, Woody Apple, e a junção dessas cores resultou na simplicidade, músicas puras com uma sonoridade crua e singela. Estou em um momento anti-materialista, sem excessos, e quero me comunicar através de poemas musicas em violão e gaita de boca.”
Em 21 de dezembro de 2015, Júpiter foi encontrado caído no banheiro de sua residência. O serviço de emergência foi acionado, mas o músico veio a falecer em sua casa. Com a saúde frágil, ele morreu após sofrer um infarto agudo do miocárdio durante o banho.
Para Frank Jorge, parceiro da época d’Os Cascavelletes e também uma referência no rock gaúcho, Flávio Basso deixa um grande legado como compositor e como criador:
“Um criador incansável, um cara que fugia totalmente dos lugares-comuns, da previsibilidade”.
Homenagens Póstumas:
Em 2016, Nei Van Sória, Frank Jorge, Alexandre Barea e Humberto “Cokeyne Bluesman” Petinelli, ex-integrantes dos Cascavelletes, reúnem-se em estúdio para gravar uma canção em sua homenagem. Entitulada Balada Para Flávio, a canção foi composta por Nei, logo após o último encontro com Flávio, em
Dezembro de 2015. A canção ganhou um vídeo clipe. Na descrição do vídeo, que também foi divulgado em seu perfil oficial no Facebook, Nei Van Sória conta sua trajetória ao lado de Basso: “O Flávio foi meu parceiro e amigo por mais de 30 anos! Nossa convivência ao longo desse tempo e a admiração que nutríamos um pelo outro mantinha-nos próximos, mesmo quando estávamos longe”. O clipe começa com imagens de arquivo de Basso se apresentando com
Os Cascavelletes e em carreira solo, para logo depois mostrar o músico contando sobre um possível filme sobre a história da banda: “Os Cascavelletes é uma banda revolucionária. O filme vai começar com Nei Van Sória tocando piano com uma cortina vermelha ao fundo”. Em seguida, Nei aparece tocando.
Em setembro de 2016 foi lançado o livro “A odisseia: memórias e devaneios de Jupiter Apple”, uma autobiografia ficcional que Júpiter escreveu junto com o também músico Juli Manzi, a partir de 2014.