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Otto Maria Carpeaux, nascido Otto Karpfen (Viena, 9 de março de 1900 – Rio de Janeiro, 3 de fevereiro de 1978), foi um ensaísta, crítico literário e jornalista austríaco naturalizado brasileiro.

Foi filho único de Max Karpfen, um profissional liberal judeu, e de Gisela Schmelz Karpfen, católica. Nascido na capital do Império Austro-Húngaro, em 9 de março de 1900, onde cursou o ginasial, Otto Maria Carpeaux (então Otto Karpfen) ingressou na faculdade de direito por sugestão familiar, abandonando-a um ano depois.

Entre os anos de 1920 e 1930 estudou no Instituto de Química da Universidade de Viena, mas nunca exerceu a profissão. Nessa época frequentava os círculos literários de Viena e conferências públicas de Karl Kraus. Também estudou filosofia (doutorou-se em 1925), matemática (em Leipzig), sociologia (em Paris), literatura comparada (em Nápoles) e política (em Berlim); além de dedicar-se à música.

Dedicou-se intensamente à literatura e ao jornalismo político, carreiras que deixou em Viena com passagens como redator da revista semanal Berichte zur Kultur und Zeitgeschichte articulistas do jornal Neue Freie Presse.

Em março de 1930 casou-se com Helena Carpeaux que o acompanhou por toda a vida. Abandonou o judaísmo em 1933, converteu-se à religião católica e acrescentou Maria e Fidelis ao seu nome, este último por pouco tempo.

Tornou-se homem de confiança de dois primeiros-ministros em Viena, Engelbert Dollfuss e Kurt Schuschnigg, respectivamente os últimos primeiro-ministros antes da Áustria ser incorporada ao Reich alemão. Com a queda deste último, foi obrigado a seguir para o exílio.

Em princípios de 1938, foge com a mulher para Antuérpia (Bélgica), onde ainda trabalha como jornalista na Gazet van Antwerpen, maior jornal belga de língua holandesa.

Diante da escalada nazista, Carpeaux se sente inseguro e foge com a mulher, em fins de 1939, para o Brasil. Durante a viagem de navio, estoura a guerra na Europa. Recusando qualquer ligação com o que estava acontecendo no Reich, muda seu sobrenome germânico Karpfen para o francês Carpeaux.

Ao desembarcar, nada conhecia da literatura brasileira, nada sabia do idioma e não tinha conhecidos. Na condição de imigrante, foi enviado para uma fazenda no Paraná, designado para o trabalho no campo. O cosmopolita e erudito Carpeaux ruma para São Paulo.

Inicialmente passa dificuldades; sem trabalho, sobrevive à custa da venda de seus próprios pertences, inclusive livros e obras de arte. Poliglota, o homem que já sabia inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, flamengo, catalão, galego, provençal, latim e servo-croata, em um ano aprendeu e dominou o português, com muita facilidade devido ao conhecimento do latim e de outras línguas dele derivadas.

Em 1940, tentou ingressar no jornalismo nacional, mas não consegue. Então escreve uma carta a Álvaro Lins a respeito de um artigo sobre Eça de Queiróz.

A resposta veio em forma de convite, em 1941, para escrever um artigo literário para o Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. Seu artigo é publicado, iniciando uma publicação regular.

Até 1942, Carpeaux escrevia os artigos em francês, que eram publicados em tradução. Mostrando sua grande inteligência e erudição, divulgou autores estrangeiros pouco ou mal conhecidos entre o público brasileiro, desenvolvendo-se um grande crítico literário.

Nesse mesmo ano, Otto Maria Carpeaux naturalizou-se brasileiro. Ainda em 1942, publica o livro de ensaios Cinzas do Purgatório.

Entre 1942 e 1944 Carpeaux foi diretor da Biblioteca da Faculdade Nacional de Filosofia. Em 1943, publica Origens e Fins.

De 1944 a 1949 foi diretor da Biblioteca da Fundação Getúlio Vargas.

Em 1947 publica sua monumental História da Literatura Ocidental – o mais importante livro do gênero em língua portuguesa – no qual analisa a obra de mais de oito mil escritores, partindo de Homero até mestres modernistas, neste caso sendo o estudo de sua predileção.

Em 1950, torna-se redator-editor do Correio da Manhã. Em 1951, publica Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira, obra singular na literatura nacional – reunindo, em ordem cronológica, mais de 170 autores de acordo com suas correntes, da literatura colonial até nossos dias. Sua produção crítica literária é intensa, escrevendo em jornais semanalmente.

Em 1953, publicou Respostas e Perguntas e Retratos e Leituras.

Em 1958, publicou Presenças, e em 1960, Livros na Mesa.

Carpeaux foi forte opositor do Regime Militar, redigindo artigos acerca da retrógrada autoridade da então nova ordem militar, participando de debates e eventos políticos. Contudo, escreveu editoriais em Jornais de 1964 pró-golpe (Basta! e Fora! foram os títulos deles).

Nesse período foi também, ao lado de Antônio Houaiss, co-editor da Grande Enciclopédia Delta-Larousse.

Morte:

Em 3 de fevereiro de 1978, morre no Rio de Janeiro de ataque cardíaco.

Curiosidades:

José Roberto Teixeira Leite, outro homem de vasta erudição, que conheceu Carpeaux quando vivia no Rio de Janeiro, descreve a figura do sábio austríaco: Carpeaux foi um dos homens mais feios que conheci… sua aparência neanderthalesca, todo mandímbulas e sobrancelhas, fazia a delícia dos caricaturistas: parecia, sem tirar nem por, um troglodita, mas troglodita de ler Homero e Virgílio no original, de se deliciar com Bach e Beethoven e de diferenciar entre Rubens e Van Dyck.

E acrescenta que Carpeaux era totalmente gago, o que o afastou da cátedra e das universidades para confiná-lo em bibliotecas, gabinetes e redações.

Cultivou amizade com grande número de intelectuais de sua época, bem como algumas inimizades. Não raro, Carpeaux foi identificado como um homem generoso, paciente mas intransigente quando provocado por fatos e juízos que julgasse absurdos ou equivocados.

Carlos Heitor Cony, membro da ABL, aponta que Carpeaux dominava alguma espécie de mnemónica com a qual, por meio de chaves e códigos, penetrava em todos os campos do saber humano. Segundo o jornalista, Carpeaux preferia ler partituras a escutar músicas, pois lendo a pauta achava mais fácil de memorizar as canções.

Obras:

  • 1942 – Cinza do Purgatório (nova ed. rev.: Baln. Camboriú, Danúbio, 2015)
  • 1943 – Origens e Fins
  • 1947 – História da Literatura Ocidental (8 volumes)
  • 1951 – Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira
  • 1953 – Perguntas e Respostas
  • 1953 – Retratos e Leituras
  • 1958 – Presenças
  • 1958 – Uma Nova História da Música
  • 1960 – Livros na Mesa
  • 1964 – A Literatura Alemã
  • 1965 – A Batalha da América Latina
  • 1965 – O Brasil no Espelho do Mundo
  • 1968 – As Revoltas Modernistas na Literatura
  • 1968 – 25 Anos de Literatura
  • 1971 – Hemingway: tempo, vida e obra
  • 1976 – Reflexo e realidade: ensaios (Rio de Janeiro, Fontana)
  • 1978 – Alceu Amoroso Lima (biografia)
  • 1992 – Sobre Letras e Artes
  • 1999 – Ensaios Reunidos 1942-1978 (vol. 1) De A Cinza do Purgatório até Livros na Mesa
  • 2005 – Ensaios Reunidos 1946-1971 (vol. 2)
  • 2013 – A História Concisa da Literatura Alemã
  • 2014 – Caminhos para Roma: aventura, queda e vitória do espírito (trad. do alemão por Bruno Mori, Campinas, Vide)
  • 2016 – O Canto do Violino e outros ensaios inéditos (Baln. Camboriú, Danúbio)

 

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