Homenagem do dia: Raul Seixas
Hoje, 21 de agosto, homenageamos Raul Santos Seixas. Raul, foi um cantor e compositor brasileiro, frequentemente considerado um dos pioneiros do rock brasileiro. Também foi produtor musical da CBS durante sua estada no Rio de Janeiro, e por vezes é chamado de “Pai do Rock Brasileiro” e “Maluco Beleza”.
Vida;
Raul Santos Seixas nasceu às 8 horas da manhã em 28 de junho de 1945 numa família de classe média baiana que vivia na Avenida Sete de Setembro, Salvador. Seu pai, Raul Varella Seixas, era engenheiro da estrada de ferro e sua mãe, Maria Eugênia Santos Seixas, se dedicava às atividades domésticas. No próximo mês ele foi registrado no Cartório de Registro Civil de Salvador com o nome do pai e do avô paterno. Em 16 de setembro do mesmo ano, batizaram-no na Igreja Matriz da Boa Viagem.
Em 4 de dezembro de 1948, Raul Seixas ganhou um irmão, o único, Plínio Santos Seixas, com quem teria um bom relacionamento durante sua infância. Os estudos de Raul Seixas começaram em 1952, onde frequentou o curso primário estudando com a professora Sônia Bahia. Concluído o curso em 1956, fundou o Club dos Cigarros com alguns amigos. O trágico percurso escolar de Raul Seixas se iniciaria em 1957, quando ele ingressou no ginásio Colégio São Bento, onde foi reprovado na 2ª série por três anos. Um dos motivos da reprovação, segundo alguns biógrafos, é que ele, em vez de ir assistir as aulas, ouvia rock and roll — em seus primórdios — na loja Cantinho da Música. No mesmo ano, em 13 de Julho, Raul Seixas fundou o Elvis Rock Club com o amigo Waldir Serrão. Segundo a jornalista Ana Maria Bahiana, é através de Serrão que Raul Seixas começou a sair de casa e a manter uma vida social mais ampla. Segundo Raul, o encontro com Waldir foi fantástico: “me preparei todo, botei a gola pra cima, botei o topete, engomei o cabelo, e fiquei esperando ele, mascando chiclete”. O Elvis Rock Club era como uma gangue, que procurava brigas na rua, fazia arruaça, roubava bugigangas e quebrava vidraças. Embora Raul não gostasse muito disso, “ia na onda, pois o rock (pelo menos a meu ver) tinha toda uma maneira de ser”.
Então, a família resolveu matricular Raul num colégio de padres, o Colégio Interno Marista, onde ele alcançou a 3ª série em 1960, mas acabou repetindo o estágio em 1961. Ao que tudo indica, nessa época Raul Seixas começou a se interessar pela leitura. O pai de Raul Seixas amava os livros e possuía uma vasta biblioteca em casa. Tão logo decifrou o mistério das letras, o garoto pôs-se a ler os volumes que encontrava na biblioteca do pai Raul. Sendo assim, as histórias que lia na biblioteca fermentavam sua imaginação e, com os cadernos do colégio, fazia desenhos, criava personagens, enredos, para depois vender ao irmão quatro anos mais novo, que acabava ficando interessado e comprava os esboços.
Segundo Raul, um dos personagens principais dessas histórias era um cientista maluco chamado “Mêlo” (algo como “amalucado”), que viajava para diversos lugares imaginários como o Nada, o Tudo, Vírgula Xis Ao Cubo, Oceanos de Cores. Segundo Raul, Melô era sua “outra parte, a que buscava as respostas, o eu fantástico, viajando fora da lógica em uma maquinazinha em que só cabia um só passageiro… Melô-eu.” Plínio ficava horas ouvindo o irmão contar suas histórias, dentro do quarto dos dois, e Raul frequentemente encenava os personagens como um ator. Ambos os irmãos tinham algo em comum: adoravam literatura, mas odiavam a escola. Mais tarde, já maduro, Raul Seixas diria: “Eu era um fracasso na escola. A escola não me dizia nada do que eu queria saber. Tudo o que aprendia era nos livros, em casa ou na rua. Repeti cinco vezes a segunda série do ginásio. Nunca aprendi nada na escola. Minto. Aprendi a odiá-la.” De um modo ou de outro, Raul Seixas precisava frequentar a escola vez ou outra.
Em uma determinada ocasião, o pai perguntou a Raul como ele ia na escola e pediu seu boletim. Raul mostrou um boletim falsificado, com todas as matérias resultando em um 10. O pai questionava se ele havia estudado, mas Maria Eugênia interrompia, dizendo algo como “Estudou nada, ficou aí ouvindo rock o tempo inteiro, essa porcaria desse béngue-béngue, de élvis préji, de líri ríchi e gritando essas maluquices.” Os pais de Raul, como toda a geração da época, estranhavam o rock e ele não era muito bem-vindo entre as famílias.
No ano de 1974, Raul Seixas e Paulo Coelho criam a Sociedade Alternativa, uma sociedade baseada nos preceitos do bruxo inglês Aleister Crowley,
praticamente repetindo o chamado Livro da Lei. O cantor foi levado pelo escritor a conhecer uma ordem filosófica baseada na Lei de Thelema, desenvolvida por Crowley. A Sociedade Alternativa, com sede alugada, papel timbrado e relatórios mensais, chegou a anunciar a aquisição de um terreno em Minas Gerais, para a construção da Cidade das Estrelas, uma comunidade onde a única lei era: “Faz o que tu queres, há de ser tudo da lei.” Em todos os seus shows, Raul divulgava a Sociedade Alternativa com a música de mesmo nome.
A obsessão de Raul Seixas e Paulo Coelho em construir “uma verdadeira civilização thelêmica”, evidentemente, trouxe problemas com a Censura. A letra da música “Como Vovó já Dizia” composta pelos dois, teve de ser mudada. Logo no show de lançamento, a polícia apreendeu o gibi/manifesto “A Fundação de Krig-Ha” e o queimou como material subversivo. A Ditadura, então, através do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) prendeu Raul e Paulo, pensando que a Sociedade Alternativa fosse um movimento armado contra o governo.
“Veio uma ordem de prisão do Exército e me detiveram no Aterro do Flamengo. Me levaram para um lugar que não sei onde era. Imagine a situação: estava nu, com uma carapuça preta. E veio de lá mil barbaridades. Tudo para eu dizer os nomes de
quem fazia parte da Sociedade Alternativa, que, segundo eles, era um movimento revolucionário contra o governo. O que não era. Era uma coisa mais espiritual. Preferiria dizer que tinha pacto com o demônio a dizer que tinha parte com a revolução. Então foi isso, me escoltaram até o aeroporto.” (…)”
Depois de torturados, Raul e Paulo foram exilados para os Estados Unidos, com suas respectivas esposas, Edith Wisner e Adalgisa Rios. Muitas histórias são contadas sobre a estadia de Raul Seixas nos Estados Unidos, como seu encontro com John Lennon, mas ninguém sabe ao certo se são verdadeiras. No entanto, o LP Gita gravado poucos meses antes faz tanto sucesso, que forçou a Ditadura a trazê-los de volta para o Brasil. O álbum Gita rendeu à Raul um disco de ouro, após vender 600.000 cópias, sendo considerado o LP de maior sucesso de sua carreira. Ainda neste ano, Raul separa-se de Edith, que vai para os Estados Unidos com a filha do casal, Simone.
Em 1975, Raul Seixas casa-se com Glória Vaquer, e grava o LP Novo Aeon, onde compôs junto com Paulo Coelho, uma de suas músicas mais conhecidas, “Tente Outra Vez”, que seria creditada juntamente com Marcelo Motta, por quem eram discipulados na Astrum Argentum (AA). O LP, porém, vendeu menos de 60 mil cópias. Ainda em 1975, Raul lê um manifesto e canta a Sociedade Alternativa no documentário Ritmo Alucinante, que foi um festival de rock realizado no Rio de Janeiro, gravado no álbum Hollywood Rock, lançado no mesmo ano. Em 1976, Raul supera a má-vendagem do disco Novo Aeon com o álbum Há Dez Mil Anos Atrás. Neste mesmo ano, nasce sua segunda filha, Scarlet. Chega então ao fim, o seu contrato com a gravadora Philips e sua parceria com Paulo Coelho, embora continuassem amigos (ou inimigos íntimos).
Jay Vaquer, músico e cunhado de Raul na época, coletou material para fazer um novo disco, Raul Rock Seixas, que diziam ser um álbum feito de resto de gravações, mas na verdade a história era outra. Raul escolheu as músicas, e Jay começou a fazer os arranjos. Porém, antes de Raul Seixas e Jay terminarem de mixá-lo devido à suas ausências por causa dos shows, a Philips lançou o disco sem avisá-los, sob o selo da Fontana/Phonogram, mixando-o por conta própria. Segundo Jay, isso prejudicou o trabalho que ambos haviam planejado anteriormente, destruindo o LP, porque finalmente seu nome estava num LP de Raul como produtor, arranjador, e guitarrista, e seu trabalho foi muito mal representado.
Em 1977, nasce no Brasil uma nova gravadora, a WEA, que se interessa em contratar Raul Seixas. Por volta deste período, intensifica-se a parceria com o amigo Cláudio Roberto, com quem Raul compôs várias de suas canções mais conhecidas. Juntos, realizaram o LP O Dia Em Que A Terra Parou. A crítica não gostou. Foi dito que não mantinha o mesmo nível dos trabalhos anteriores. Mas os fãs se deliciam com “Maluco Beleza”, “Sapato 36” e a faixa-título.
Naquele final de década as coisas começaram a ficar ruins para Raul. A partir do ano de 1978, começa a ter problemas de saúde devido ao alcoolismo lhe causando a perda de 1/3 do pâncreas. Raul passa alguns meses numa fazenda na Bahia, para se recuperar da pancreatite. Ele separe-se de Glória, que, assim como Edith, também voltou aos Estados Unidos, levando a filha Scarlet. Neste ano, conhece Tania Menna Barreto, com quem passa a viver. Lança o LP Mata Virgem que conta com a volta de Paulo Coelho, porém, ambos chegam a conclusão, de que essa parceria já não tinha mais como dar certo. Além disso, a má divulgação atrapalhou as vendas do disco e a crítica também não ajudou.
No ano de 1979, Raul separa-se de Tania. Começa então, a depressão de Raul Seixas junto com uma internação para tratar do alcoolismo. Conhece Angela Affonso Costa, a Kika Seixas, sua quarta companheira. Lança seu último LP com a WEA, Por Quem os Sinos Dobram, em parceria com o amigo Oscar Rasmussen e logo após, rescinde o contrato com a gravadora.
Morte;
As 50 apresentações pelo Brasil resultaram naquele que seria o último disco lançado em vida por Raul Seixas. O disco foi intitulado de A Panela do Diabo, que foi lançado pela Warner Music Brasil no dia 22 de agosto de 1989. Na manhã do dia 21 de agosto, Raul Seixas foi encontrado morto sobre a cama, por volta das oito horas da manhã em seu apartamento em São Paulo, vítima de uma parada cardíaca: seu alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter tomado insulina na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda fulminante. O LP A Panela do Diabo vendeu 150.000 cópias, rendendo a Raul um disco de ouro póstumo, entregue à sua família e também a Marcelo Nova, tornando-se assim um dos discos de maior sucesso de sua carreira. Raul foi velado pelo resto do dia no Palácio das Convenções do Anhembi. No dia seguinte seu corpo foi levado por via aérea até Salvador e sepultado às 17 horas, no Cemitério Jardim da Saudade.
Homenagens;
- 1999 – Como Raul Já Dizia (espetáculo do grupo baiano de teatro Os Argonautas).
- 1999 – Raul Fora da Lei (monólogo produzido por Roberto Bontempo que marcou os dez anos de falecimento de Raul).
- 2005 – Raul Seixas, A Metamorfose Ambulante (musical de Plínio Seixas e Deolindo Checcucci em homenagem aos sessenta anos de nascimento do músico).
- 2009 – Por Toda a Minha Vida (especial de fim de ano exibido pela Rede Globo de Televisão que marcou os vinte anos da morte de Raul).
- 2012 – Meu amigo Raul (espetáculo da Associação Cultural Teatro de Pano).
- 2015 – Raul: “Esse caminho que eu mesmo escolhi…” (edição do programa-documentário Caminhos da Reportagem, da TV Brasil).
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